quarta-feira, abril 22, 2020

CURRÍCULO EMERGENCIAL PARA A EDUCAÇÃO DURANTE E PÓS PANDEMIA


ELVIRA SOUZA LIMA

São várias as questões que serão levantadas na educação escolar a partir do aparecimento e expansão do coronavírus e a pandemia que se instalou com ele. Estas questões atingirão tanto o grupo de alunos como a equipe gestora e os professores. Novas demandas surgirão, com certeza.

Podemos pensar em curto e médio prazos.

No curto prazo, o aspecto mais discutido á a utilização da educação à distância em substituição ao ensino presencial. E é natural que assim seja e que este tema seja tão discutido, uma vez que não há disponível um conhecimento pedagógico formulado e desenvolvido para o ensino à distância em tempo integral da carga horária, da Educação Infantil ao Ensino Médio.

Em segundo plano, surgem e surgirão com mais ênfase as questões do conteúdo curricular e da avaliação.

Mas o que o futuro imediato nos reserva?

No médio prazo seremos chamados a equacionar os valores e comportamentos sociais os quais, a partir da epidemia, precisaremos nos ocupar na escola, em todos os graus.
Nesta situação é legítimo propor um currículo emergencial que propicie de imediato as respostas aos desafios práticos do momento que, por sua vez, estão intimamente relacionados aos desafios civilizatórios colocados pela presença do novo vírus e suas consequências na vida de todos em todo o planeta.

O essencial de um currículo emergencial neste contexto é reestruturar e ampliar as ações educativas que promovam a humanização das novas gerações ao mesmo tempo em que ampliem os conhecimentos dos educadores.

Propomos, assim, apresentar e discutir os componentes principais de um currículo emergencial que atenda ao desenvolvimento humano e à vida social em um momento excepcional  de novos desafios para as gerações atuais.

sexta-feira, abril 03, 2020

ELVIRA SOUZA LIMA - PANDEMIC AND THE BRAIN




How a situation of isolation and anxiety in the context of the new global pandemic affects the brain and what to do about it, specifically with the help of the arts, music and literature, to balance our mind and feelings - by Elvira Souza Lima, PhD


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CÉREBRO EM TEMPOS DE QUARENTENA - ELVIRA SOUZA LIMA

Elvira Souza Lima


Como fica o cérebro nesta situação da quarentena do coronavírus?

O primeiro ponto a considerar, muito importante, é que a pandemia provocou uma ruptura. Muito rapidamente o contexto de vida, interações, rotina e expectativas do futuro imediato foram alterados bruscamente por uma situação nova e desconhecida para a qual a nossa memória não oferece acervos para responder.

Nós compreendemos as coisas e tomamos decisões com a participação de nossas memórias e de nossas emoções. A dificuldade no momento atual, com a pandemia, é que nunca passamos por algo semelhante. As rotinas que regulam nossa vida (família, trabalho, lazer, escola), as prioridades que estabelecemos são apoiadas no script/roteiro do nosso dia a dia e foram, repentinamente, solapadas  e terão que ser constituídas em outros termos.

No cérebro acontece uma descontinuidade química e surge a necessidade de estabelecer outras redes neuronais que deem sustentação à ação.

A reorganização no funcionamento cerebral não é instantânea, não depende somente da vontade ou deliberação. Demanda tempo.

Nós não mudamos de um momento para outro, é sempre um processo de adaptação e modificação, com avanços e retrocessos, processo este que vai definindo o percurso para formar comportamentos necessários para reagir a uma situação nova.

Um aspecto importante é que, no cérebro, haverá uma mobilização do sistema emocional de tal forma que muitas emoções emergirão. Medo é uma delas: medo do novo, medo de ser infectado, medo de que pessoas queridas o sejam e não resistam. Incerteza é outra consequência: não temos indicadores de evolução e possível término desta nova situação, pois não se sabe muito sobre o vírus e sobre as consequências. Incerteza gera insegurança. No cérebro, estes sentimentos acontecem com químicas que são liberadas em situação de estresse e que afetam bastante o estado de espírito e o humor. Então é um momento que precisamos, com certeza, buscar  um equilíbrio com a liberação de químicas que concorrem para o bem estar.

Como fazer para equilibrar ?  Algumas providências simples ajudam. Vejamos:

O cérebro precisa de pausas. Isto significa que precisa de sono, então uma das vertentes principais deste novo momento em que estamos todos imersos é garantir o sono, preservando os olhos da luz das telas de celular  e computador pelo menos uma hora antes de dormir.

O cérebro precisa de pequenos períodos de repouso, 10 a 15 minutos duas a quatro vezes por dia, ao menos.

O cérebro precisa de oxigênio, então práticas de respiração lenta e profunda contribuem bastante, assim como meditação e yoga. Exercícios físicos, que podem ser acompanhados por música, são igualmente importantes, por liberarem químicas que produzem bem estar. 

O cérebro precisa ser “alimentado” pela vivência e práticas culturais que promovem a liberação de químicas positivas, ou seja, aquelas que nos fazem sentir bem.

Nesta situação de ruptura, em que há uma demanda do pensamento crítico e da criatividade para ajudar nosso pensamento, podemos e devemos recorrer às artes.

Das formas de arte, a música é a mais pesquisada pela neurociência. Temos um cérebro musical, ou seja, um cérebro que responde geneticamente à música e por ela é transformado. Todos cantamos, sem precisar estudar música, tanto a escuta como a produção de melodia com nossa voz é uma  característica da espécie, que se manifesta muito cedo no bebê e permanece em todos os períodos de desenvolvimento. A música atua diretamente no sistema emocional, promove o contágio entre as pessoas, sendo assim, também, um fator importante nas interações interpessoais na situação de quarentena.

Ouvir música, assistir a espetáculos musicais na internet, cantar, tocar um instrumento caso se tenha estudado música, dançar (que integra música ao movimento) devem integrar a rotina diária.
Outra atividade das artes cujo impacto no cérebro já tem sido pesquisado é a literatura. São inúmeros os benefícios da leitura de obras de qualidade, mesmo que poucas páginas por dia. A poesia tem um efeito positivo no funcionamento do cérebro, muito além do que livros de autoajuda.

Então este é um momento oportuno para trazer a literatura para o cotidiano, tanto a leitura feita individualmente, como em atividades coletivas em casa. Também podemos criar grupos online voltados para leitura e conversas sobre obras literárias.

É uma ruptura, estamos vivendo uma ruptura, que, dialeticamente,  constitui uma possibilidade de criação de estratégias de humanização. E isto fazemos, também, com diálogos.