domingo, novembro 27, 2011

ESCREVER É TRANSFORMAR

Elvira Souza Lima





Tenho pautado minhas pesquisas e consultorias pelo fato de que aprender a escrever significa um avanço muito grande no processo de escolaridade e um aspecto indispensável na formação da pessoa com autonomia, o que permite a ela maiores possibilidades de exercer sua cidadania.


Ler com compreensão e com capacidade de reflexão permite a cada pessoa o acesso às ideias dos outros e aos conhecimentos formais (que são de direito de qualquer ser humano). A escrita, por sua vez, tem outra dimensão que é a possibilidade para quem escreve de expressar suas próprias ideias, comunicar suas argumentações e análises e gerar leitores. A inserção social de quem escreve é diferente daquele que é somente leitor.


Este é um aspecto fundamental para o desenvolvimento humano. Sabemos que a escrita esclarece o próprio autor, ou seja, o ato de escrever organiza as ideias, esclarece dúvidas, identifica o que não se domina, gera processos de pensamento que somente a oralidade ou a leitura não geram.


Estas e outras dimensões da linguagem escrita no desenvolvimento humano são hoje esclarecidas pela neurociência. Sabemos que são várias as áreas do cérebro envolvidas na ação de escrever, mais áreas das que são mobilizadas para a leitura.


Ensinar todas as crianças a escrever corretamente de forma que cada criança possa comunicar suas ideias e pensamentos, exercer sua imaginação e dispor desta poderosa ferramenta que é escrever para si mesma, fazendo suas anotações, explicitando seu raciocínio, ampliando seus recursos de memória é revolucionário.


Revolucionário pois modifica as relações de poder estabelecidas, em que maior poder tem aquele que pode criar memórias através de seus escritos que vão além da sua pessoa, do seu contexto imediato e mesmo de seu tempo histórico.


Que a grande maioria das crianças pode aprender a escrever bem e corretamente aos 8 anos, para a partir daí desenvolver e aprofundar a capacidade de escrever, é um fato. Temos hoje conhecimento científico para fundamentar esta afirmativa. Mas não é só uma questão científica, é uma questão política.




Um comentário:

Anônimo disse...

Professora Elvira! Li seu texto e concordo em gênero, número e grau com o que nele está expresso. Porém, como conseguir isso com uma criança raquítica, de baixo peso e baixa altura para a idade e que, após seis anos de escolarização formal, sequer desenha as letras do alfabeto...
Fiz um ditado de texto para verificar o padrão ortográfico da turma e esse aluno "escreveu tudo", na direção correta da escrita: de cima para baixo, da esquerda para a direita, cada frase em sua linha, mas não havia uma letra sequer; somente rabiscos, nada que lembre nem de leve as palavras do texto ditado. Não sei o que fazer para ajudá-lo...