domingo, maio 30, 2010

Memória e Atenção

Elvira Souza Lima


ATENÇÃO (1)


Vamos discutir a atenção a partir de três perguntas:


1. Como acontece a atenção?



A atenção acontece, em parte, pela capacidade que o ser humano tem de regular a sua percepção, eliminando alguns estímulos para se concentrar em outros. Ou seja, a atenção é consequência de um processo de escolha, voluntária ou involuntária, entre diferentes possibilidades da percepção. A percepção é realizada por um ou mais órgãos dos sentidos.



Segundo as pesquisas da neurociência, a atenção acontece pela formação de redes neuronais responsáveis pelos estados de alerta, de foco e concentração e, finalmente, de atenção executiva. Esta última é condição para as aprendizagens escolares.



Atenção é um processo que se constitui pela integração de fatores biológicos e culturais. A atenção é modulada, também, pelas emoções.



2. Qual é o papel da atenção na aprendizagem?



Sem atenção não há formação de memórias e sem formação de memórias não há aprendizagem dos conhecimentos escolares. No cérebro, há três níveis de formação do comportamento de atenção (Izquierdo, 2002; Gazzaniga, 1998; Larry, 2003):



a) O estado de alerta;

b) O foco e a concentração;

c) A atenção executiva.



O estado de alerta é condição inicial para a concentração em um tema de estudo. O planejamento do professor e a adequação da tarefa ao período de desenvolvimento do aluno são fatores que influenciam o estado de alerta. Além desse primeiro momento, a atividade proposta deve levar, pela motivação, ao engajamento do aluno com o conhecimento. O professor depende da manutenção da atenção do aluno para que a aprendizagem aconteça. Com a manutenção da atenção, chega-se ao foco e, daí, à concentração. Deste nível, o aluno pode se engajar nos processos da atenção executiva em que relações são feitas (em nível neuronal), o que levaria à formação de memórias.



3. Existem maneiras de estimular a atenção?



Comportamentos de atenção se formam desde a educação infantil e, para tanto, precisam fazer parte do currículo. Prestar atenção, focar, manter-se atento, utilizar estratégias que facilitam a atenção são comportamentos que podem (e devem) ser ensinados e praticados com as crianças desde cedo.



A cultura é muito importante na infância para a formação de comportamentos de atenção, uma vez que as práticas culturais da infância exigem, exercitam e qualificam os estados de atenção. As brincadeiras infantis, a música, o desenho e a dramatização são situações próprias do desenvolvimento infantil que têm como característica central a mobilização e a permanência de estados de alerta e de foco da atenção.



As artes, mais antigas que as práticas pedagógicas escolares, têm em sua própria essência a condição de formar estados de atenção, pois sem eles não se toca instrumento, não se dança, não se desenha, não se compõe música.



Dessa forma, a atenção necessária para que os alunos aprendam resulta de uma proposta curricular que tenha como objetivo trabalhar não somente os conhecimentos formais, mas também as formas de atividade humana que permitem ao ser humano aprender tais conhecimentos.


(1) em Atenção e Desatenção, da autora.


terça-feira, maio 18, 2010

Ensino da letra cursiva

Folha Online: Ensino da letra cursiva para crianças em alfabetização divide a opinião de educadores

Terça-feira, 18 de maio de 2010

HÉLIO SCHWARTSMAN

articulista da Folha



"Deve-se ou não exigir que as crianças escrevam com letra cursiva? A questão, que divide educadores e semeia insegurança entre pais, está --ao lado da pergunta sobre o ensino da tabuada-- entre as mais ouvidas pela consultora em educação e pesquisadora em neurociência Elvira Souza Lima. A resposta, porém, não é trivial. [...]Para Elvira Souza Lima, que prefere não tomar partido na controvérsia, "os processos de desenvolvimento na infância criam a possibilidade da escrita cursiva". A pesquisadora explica que crianças desenhando formas geométricas, curvas e ângulos são um sério candidato a universal humano. Recrutar essa predisposição inata para ensinar a cursiva não constitui, na maioria dos casos, um problema. Trata-se antes de uma opção pedagógica e cultural.

Souza Lima, entretanto, lança dois alertas. O tempo dedicado a tarefas complementares como a cópia de textos e exercícios de caligrafia não deve exceder 15% da carga horária. No Brasil, frequentemente, elas ocupam bem mais do que isso.

Ainda mais importante, não se deve antecipar o processo de ensino da escrita. Se se exigir da criança que comece a escrever antes de ela ter a maturidade cognitiva e motora necessárias (que costumam surgir em torno dos sete anos) o resultado tende a ser frustração, o que pode comprometer o sucesso escolar no futuro."

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