Paulo de Camargo - Qual é, a seu ver, o interesse em preservar um currículo mais rico, onde caibam a música, as artes plásticas, o teatro? Trata-se de uma questão de formar mais globalmente, ter indivíduos mais equilibrados, ou um trabalho pedagógico rico nesse campo também colabora para o desenvolvimento cognitivo?
Elvira Souza Lima - As artes em seu conjunto têm a mesma complexidade que as ciências quando consideramos a vida mental. A neurociência avançou muito na última década revelando um papel insuspeitado que as artes têm no que chamamos de “desenvolvimento cognitivo” .Artes, ciências (todas elas, as duras e as humanas) e os sistemas simbólicos (como a escrita, a linguagem matemática, a musical, a linguagem da física, só para citar algumas) são conhecimentos sistematizados.
Aprendizagens realizadas nas práticas artísticas formam redes neuronais no cérebro que podem ser mobilizadas para aprender as áreas do conhecimento formal. Além disso, a prática de arte forma comportamentos necessários para a aprendizagem dos conhecimentos escolares, como comportamentos de atenção.
Paulo de Camargo - O que há de estudos científicos que comprovam o papel da música no desenvolvimento do cérebro?
Elvira Souza Lima - Há uma produção enorme, tanto nos Estados Unidos, como na Europa. Há evidências de que a música modifica fisicamente o cérebro. Vários neurocientistas, como Oliver Sacks, afirmam que o cérebro de um músico se distingue dos cérebros de pessoas de outras profissões. Como ele diz, se olharmos os cérebros de pessoas de profissões diferentes (por exemplo, de um engenheiro, de um motorista, de um administrador de empresas e de um músico), reconheceríamos o do músico. Uma das partes do cérebro, a responsável pelas trocas entre hemisfério esquerdo e hemisfério direito do cérebro – chamada corpo caloso – é uma das comprovadamente modificadas pela prática de instrumentos musicais.
Paulo de Camargo - A senhora me disse que o cérebro é interdisciplinar. Pode explicar com mais detalhes?
Elvira Souza Lima - Os estudos recentes da neurociência têm revelado como que uma aprendizagem de um conceito de uma área de conhecimento se transforma em instrumento mental para aprender , refletir e solucionar questões de outras áreas de conhecimento. Igualmente, como que práticas de movimento como a capoeira formam redes neuronais que concorrem para desenvolvimento do pensamento espacial, importantes para a aprendizagem da física, da geografia e matemática. O cérebro funciona como um órgão integrado em que, mesmos as áreas especializadas, contribuem conjuntamente para responder a uma demanda interna, como resolver um problema matemático, escrever um texto, compreender um relato científico. Quem aprende a ler música, desenvolve redes neuronais funcionais para a sintaxe. A sintaxe está presente tanta na escrita como na matemática.
Paulo de Camargo - Parece-lhe que, de alguma forma, os jovens de hoje tem de fato um repertório cultural mais restrito, em função da perda de espaço das artes e da música no currículo, especialmente no Ensino Fundamental II e no Médio?
Elvira Souza Lima - Uma função básica para o desenvolvimento do jovem é o desenvolvimento da imaginação. A imaginação depende dos acervos guardados na memória. Pesquisas revelam claramente como a ausência de experiências estéticas não só compromete a formação deste repertório, como, dialeticamente, esta ausência pode levar à mediocridade ou à limitação de estratégias de tomada de decisão. O jovem encontra-se frente ao mundo de trabalho como que desconectado das questões envolvidas nas relações humanas, na capacidade de liderança e na gestão de pessoas, quando em funções de direção e gerência.
É interessante observar que certas iniciativas nos Estados Unidos por parte de neurocientistas aconteceram exatamente em contraposição a uma política educacional que, quando precisa cortar gastos, começa pelo corte às artes.
Paulo de Camargo - A senhora recomenda que os pais prestem mais atenção a esse tema e busquem formações complementares, seja na própria escola, seja nos cursos livres mais qualificados?
Elvira Souza Lima - Sim, é importante que os pais entendam melhor os processos de desenvolvimento dos filhos para ajudar nas tomadas de decisão que fazem na vida das crianças e adolescentes. Ainda consideramos as artes como complementares, às vezes como algo até superficial. No entanto, sabemos hoje que elas são fundamentais na formação da criança e do jovem, com um impacto considerável. Elas podem promover o diferencial na carreira dos filhos futuramente, uma vez que o impacto no desenvolvimento das funções mentais é duradouro, ou seja, permanece para a vida toda. Em outros países, saber tocar um instrumento, ter feito teatro, por exemplo faz parte do currículo para aprovação na seleção de entrada para a universidade.
Elvira Souza Lima - As artes em seu conjunto têm a mesma complexidade que as ciências quando consideramos a vida mental. A neurociência avançou muito na última década revelando um papel insuspeitado que as artes têm no que chamamos de “desenvolvimento cognitivo” .Artes, ciências (todas elas, as duras e as humanas) e os sistemas simbólicos (como a escrita, a linguagem matemática, a musical, a linguagem da física, só para citar algumas) são conhecimentos sistematizados.
Aprendizagens realizadas nas práticas artísticas formam redes neuronais no cérebro que podem ser mobilizadas para aprender as áreas do conhecimento formal. Além disso, a prática de arte forma comportamentos necessários para a aprendizagem dos conhecimentos escolares, como comportamentos de atenção.
Paulo de Camargo - O que há de estudos científicos que comprovam o papel da música no desenvolvimento do cérebro?
Elvira Souza Lima - Há uma produção enorme, tanto nos Estados Unidos, como na Europa. Há evidências de que a música modifica fisicamente o cérebro. Vários neurocientistas, como Oliver Sacks, afirmam que o cérebro de um músico se distingue dos cérebros de pessoas de outras profissões. Como ele diz, se olharmos os cérebros de pessoas de profissões diferentes (por exemplo, de um engenheiro, de um motorista, de um administrador de empresas e de um músico), reconheceríamos o do músico. Uma das partes do cérebro, a responsável pelas trocas entre hemisfério esquerdo e hemisfério direito do cérebro – chamada corpo caloso – é uma das comprovadamente modificadas pela prática de instrumentos musicais.
Paulo de Camargo - A senhora me disse que o cérebro é interdisciplinar. Pode explicar com mais detalhes?
Elvira Souza Lima - Os estudos recentes da neurociência têm revelado como que uma aprendizagem de um conceito de uma área de conhecimento se transforma em instrumento mental para aprender , refletir e solucionar questões de outras áreas de conhecimento. Igualmente, como que práticas de movimento como a capoeira formam redes neuronais que concorrem para desenvolvimento do pensamento espacial, importantes para a aprendizagem da física, da geografia e matemática. O cérebro funciona como um órgão integrado em que, mesmos as áreas especializadas, contribuem conjuntamente para responder a uma demanda interna, como resolver um problema matemático, escrever um texto, compreender um relato científico. Quem aprende a ler música, desenvolve redes neuronais funcionais para a sintaxe. A sintaxe está presente tanta na escrita como na matemática.
Paulo de Camargo - Parece-lhe que, de alguma forma, os jovens de hoje tem de fato um repertório cultural mais restrito, em função da perda de espaço das artes e da música no currículo, especialmente no Ensino Fundamental II e no Médio?
Elvira Souza Lima - Uma função básica para o desenvolvimento do jovem é o desenvolvimento da imaginação. A imaginação depende dos acervos guardados na memória. Pesquisas revelam claramente como a ausência de experiências estéticas não só compromete a formação deste repertório, como, dialeticamente, esta ausência pode levar à mediocridade ou à limitação de estratégias de tomada de decisão. O jovem encontra-se frente ao mundo de trabalho como que desconectado das questões envolvidas nas relações humanas, na capacidade de liderança e na gestão de pessoas, quando em funções de direção e gerência.
É interessante observar que certas iniciativas nos Estados Unidos por parte de neurocientistas aconteceram exatamente em contraposição a uma política educacional que, quando precisa cortar gastos, começa pelo corte às artes.
Paulo de Camargo - A senhora recomenda que os pais prestem mais atenção a esse tema e busquem formações complementares, seja na própria escola, seja nos cursos livres mais qualificados?
Elvira Souza Lima - Sim, é importante que os pais entendam melhor os processos de desenvolvimento dos filhos para ajudar nas tomadas de decisão que fazem na vida das crianças e adolescentes. Ainda consideramos as artes como complementares, às vezes como algo até superficial. No entanto, sabemos hoje que elas são fundamentais na formação da criança e do jovem, com um impacto considerável. Elas podem promover o diferencial na carreira dos filhos futuramente, uma vez que o impacto no desenvolvimento das funções mentais é duradouro, ou seja, permanece para a vida toda. Em outros países, saber tocar um instrumento, ter feito teatro, por exemplo faz parte do currículo para aprovação na seleção de entrada para a universidade.
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